Há dias de manhã que um gajo à tarde não devia sair à noite. É verdade. O dia começou às cinco e meia da manhã para apanhar um avião às sete e quarenta e cinco. Ás seis da manhã estava a caminho na minha Vespa que ia pernoitar no parque do aeroporto e às seis e meia estava a caminho do balcão de check-in com mais cinco colegas. Mais café menos café, seis e quarenta e cinco estamos ao balcão. Uma hora antes. Diz o senhor do outro lado "Lamento mas o check-in já fechou, talvez ali no check-in sem bagagem possam ajudar..." Corremos. "Não, lamento mas este voo está fechado, talvez consigam outro voo aqui no balcão ao lado" Conseguimos. Por mais cento e setenta euros. Balcão de check-in fechado uma hora antes do voo?? Cheira-me que ainda voltarei a este assunto neste mesmo local, mas por enquanto fiquemos assim para não divagar muito. Resumo da manhã: Acordar às cinco e meia para apanhar um voo ao meio dia e um quarto. Ao menos tomei um bom pequeno almoço, ou pelo menos o preço do mesmo no talão indica que sim. Por dez euros e meio deve ter sido um farto repasto. Sim, sim.
A tarde começou já dentro do avião com trinta minutos de atraso. Não é grave. Contas feitas ainda havia tempo. Tempo para quê? Para ir ver o jogo claro está!! Ainda não tinha dito? Ah, pois não. Peço desculpa. Devia ter começado por aí. Pelo destino da viagem: Basileia para ver o jogo Portugal, Suíça. Claro que assim já percebem porque a noite não foi grande coisa, mas adiante: estávamos na tarde, num avião com trinta minutos de atraso. Do aeroporto à estação de comboios são meia dúzia de escadas rolantes e lá encontrámos o comboio para a Basileia. Uma hora depois estamos com o nosso motorista de cachecol da selecção, apesar de Suíço. Pequena pausa para reflectir que estes Suíços levam a sua ferrenha neutralidade muito a sério. Da estação para um hotel para ir buscar bilhetes, de um hotel para outro para pousar as malas e rapidamente para o estádio que já se fazia tarde. Pensava eu. Enganei-me.
Devido aos atrasos, compreensivamente, atrasamos um pouco as refeições. O economicamente farto pequeno almoço à saída e os usuais banquetes aeronáuticos deixaram-nos com alguma larica. Pequena pausa para verificar no meu dicionário digital o verdadeiro sentido da palavra. Confirma-se a definição. Iremos com certeza comer um cachorro, ou hamburguer, ou pizza ou qualquer coisa destas regada com muita cerveja no estádio porque o objectivo é ir ver o jogo! Enganei-me. Há colegas que insistem em comer pratos quentes de garfo e faca. Assim fizemos. Comi um Carpaccio. Vamos então? Não. Ainda querem sobremesas. Vamos? Não, ainda vai um cafézinho. Inicio de jogo às oito e quarenta e cinco, eram oito. Nisto entra o nosso motorista com a informação que pelo menos cinquenta minutos iríamos demorar a entrar! Já se previa. Conta não conta, pagar não pagar: oito e um quarto. Trinta minutos. Conseguiremos?
Fomos a uma velocidade furiosa para o estádio, passados três check-points com policia e militares estrada fechada e a partir dali só a pé. Vamos! Enganei-me. Quer dizer. Vamos mas devagarinho que um colega já tinha sessenta e sete anos e antes devagarinho do que não chegar. Ok. Foi um pouco de stress, mas no fundo, no fundo até chegámos a tempo de ver o "kick off". Até de comprar uma cerveja antes do kick off por oito, sim oito, euros. Preferia um pouco mais de tempo, mas tínhamos chegado a tempo e horas, ou minutos direi, que era o que interessava.
A noite começou no estádio. O jogo começou. Não preciso dizer mais nada, pois não? Pois. Os Suíços jogaram, nós não. Fiquei na dúvida se aquela seria a segunda ou se seria antes a terceira equipe. Sim temos de poupar as estrelas, sim o Scolari fez bem.. mas porra, era preciso termos jogado tão mal? Espero nunca depender deste conjunto de jogadores para ganhar qualquer coisa.
A esta altura já o caro leitor se está a questionar que raio tem o titulo a ver com este texto. Eu esclareço. Nada. Por enquanto nada. A noite lá seguiu, com um pouco de tristeza ou frustração, mas seguiu para jantar num restaurante mercado para as onze da noite. Havia mais turcos que Suiços na rua a celebrar. Lá está a ferranha neutralidade novamente. Bem sei que estão excluídos, mas ao menos que celebrassem um jogo. O jantar correu sem incidentes de maior exceptuando do facto de a cozinha ter fechado a meio do jantar deixando-nos sem sobremesa. Lá ficámos nos copos até sermos expulsos do restaurante. Literalmente.
Uma manhã atribulada. Uma tarde à pressa. Uma noite frustrante. Assim acabou o dia. Para alguns.
Dia seguinte foi calmo. Passear e almoçar. Fazer as malas e viajar. Achei espantoso o check-in completo ser feito na estação de comboios e fora um atraso de quarenta e conco minutos no voo, nada a assinalar ou a marcar neste dia. Foi a noite que foi diferente.
Já junto à Vespa, ainda lá estava inteira e capacete no sitio. Tira o casaco do porta luvas, enfia o capacete, prende a mala com dois elásticos e siga. Bela noite. Segunda circular e vamos antes pela marginal que a noite está boa. Boa não. Linda. Lua quase cheia. Temperatura fresca mas amena. O rio e eventualmente mar, fantástico.
No constante pára arranca da marginal, entre semáforos de velocidade ou de cruzamento e rotundas, reparo que passo sempre por um carro que pouco depois me passa também. Reparo que lá dentro vai uma miúda. Ao terceiro ou quarto semáforo, sexta ou oitava ultrapassagem, pondero um sorriso e um aceno. Não o faço para não me desiludir, as miúdas Portuguesas são todas umas antipáticas. Vai com certeza arrebitar o nariz, acusar-me de violação enquanto procura o seu spray de pimenta para me neutralizar.
Mais uma paragem e olho para o lado, para ver melhor quem vai ao volante. Não só é uma miúda, como ainda por cima é bem gira. Um bonito sorriso. Sorriso? Sim! É ela que sorri para mim e me acena à medida que arrancamos do sinal. Aceno e sorrio de volta. Ela baixa-se atrás do volante como se estivéssemos a fazer uma corrida. Solto uma gargalhada e faço o mesmo. Claro que o Punto passa a Vespa, mas nem estávamos a acelerar. Era mais o gozo. Rotunda, passo por ela. Recta, passa ela por mim. Sinal vermelho lá nos encontramos outra vez. Mais uns sorrisos, mais uns teatros de corridas e passamos um pelo outro mais umas vezes. Sempre a rir.
Mais um sinal vermelho, olho para o lado e ela diz-me adeus, que vai virar. Faço-lhe sinal que tenho pena, ela diz-me que gosta da minha Vespa eu pergunto-lhe por sinais "então e eu??" Ela desata-se a rir o sinal vira verde despedimo-nos mais uma vez e fomos cada um a seu caminho. Eu com um sorriso de orelha a orelha, com a noite ganha. O dia ganho, diria mesmo. Imagino que ela também deve ter ido ao seu destino com um sorriso. É preciso tão pouco para andarmos todos mais bem dispostos. Uma pitada de sentido de humor com uma dose de sorriso e está a mistura feita para o bom humor. Se por ventura algum dia me leres miuda do punto branco com tampa de gasolina preta: Obrigado.
Não. As miúdas Portuguesas NÃO são todas antipáticas. Há excepções. Esta foi uma.
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