Conheci o que julgo ser o Casanova aqui da zona. O Zézéca do concelho. O presidente da junta. É o maior, e sabe-o. Pergunto aos homens: onde é que se conhecem estas figuras? Onde é que ouvimos dos seus feitos, das suas façanhas das histórias tragicas e comicas? Onde é que a nossa vida se cruza com outros homens que de outra forma nunca conheceríamos, provavelmente? Onde temos tempo para ouvir, rir, falar, discutir apenas com uma distracção aqui e ali. Eu respondo. No mesmo sítio onde todos sabem mais que o melhor treinador de futebol. Onde há mais políticos de grade de cerveja que os há a sério no parlamento. Pequena pausa para reflectir se os há a sério por lá também... adiante. Onde? No barbeiro claro está.
Vou-lhe chamar C. Porque sim. Porque A ou B não fariam sentido. Ele é C. Tem 74 anos. Mexe-se com rapidez supreendente e na duração do meu corte capilar não parou de o fazer. Para dár entoação a uma exclamação. Para pontuar uma afirmação. Para observar as senhoras que iam passando à porta do estabelecimento. Tentei decorar alguns dos seus rasgos filosóficos, mas confesso mediocridade na memorização dos discursos. Tentarei transcrever algumas delas, que poderão variar numa palavra ou outra, mas cujo sentido se mantem. Aviso desde já que a linguagem poderá ser forte, muito forte, mas também C o é aos 74 anos. Eis algumas das suas perolas:
"Se os cornos nascessem mesmo não se podia andar na rua, andavam para aí todos enrolados uns nos outros."
"Se os cornos fossem uma luz na testa, as noites pareciam dias"
"Ontem tive de o espetar na velha, coitada. Eu amo aquela mulher, mas está mesmo velhota a coitadita. Um gajo tem necessidades e a D com o benfica a jogar em casa, portanto lá teve a velha de aguentar. Agarrei-lhe a mão pula aqui (gesto) e disse-lhe - já viste como estou inchado, achas que vou conseguir dormir assim, vá lá querida que senão não durmo hoje - ai, estás tão quente respondeu ela - ah pois estou e daqui a pouco estou a ferver e daqui a nada até já queima, vá lá, anda cá querida, Coitada da velha. Depois chama-me safado e bruto. Diz-me que não a agarre ali que a vou deixar toda marcada. Já mal aguenta a coitada. Mas teve que ser."
"Aqui há tempos a puta da médica queria-me tirar a próstata. A filha da mãe. Disse-lhe logo que havia de morrer inteiro, agora tirar-me aqui a próstata. Prefiro viver menos um ano.... dois anos.... dez anos.... vinte anos a menos do que ficar todo mole. Disse-me isto há 9 anos. Foda-se. Quem me tira as mulheres tira-me tudo."
"Houve uma altura que andava aí a comer quatro. Tinha de andar aí na rua com cuidado. De vez em quando via uma ou outra e lá tinha de fugir. A gaja do Cacem aparecia sem avisar nem nada. Estava sempre a ver quando é que ela me entrava em casa quando estava com uma das outras. Por isso é que ia sempre para casa delas. Mas depois elas tinham medo dos maridos. Epa, mas agora ando mais calmo. Tenho uma ou duas, para além da velha claro, mas essa coitadinha, está mesmo velha. Elas ainda vêm cá ter comigo, mas já estou farto delas. Quero outras."
"Agora a E anda com sei lá quantos. Cada vez que a vejo está com um novo. Eu na altura andei lá, mas a gaja era uma inocente. Não fazia nada. Uma das vezes olhei-lhe para o traseiro e a gaja vira-se para mim e diz-me - aí nem o meu marido - mas tu achas que eu sou o filho da puta do teu marido? anda cá. Se o marido lá vai agora deve-o a mim. A partir daí já me dizia que gostava ali. O marido devia-me agradecer. Ainda falava com ele de vez em quando, o gajo sabia que eu lhe andava a comer a mulher, mas o gajo queria lá saber. Ele não tinha andamento para ela."
"Eu dançar 3 ou 4 horas é a mesma coisa. Canso-me o mesmo. Quando vou a sítios que não me conhecem é elas todas a perguntarem - Quem é o velho? - por isso é que mandei fazer aquelas t-shirts que dizem C à frente. Quando me perguntam o nome aponto para a t-shirt e digo-lhes - C ao seu dispor, disponha."
...isto são apenas o resultado de 20 minutos num barbeiro com tal personagem. E houve bastantes mais pérolas, eu é que não consegui transcrever tudo. Era digno de gravar. Era mesmo. Hoje lembrei-me dele, vou daqui a pouco lá cortar o cabelo, e por isso revisitei este texto que já tinha escrito há uns tempos. Vamos ver se volto com mais pérolas.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
sábado, 25 de outubro de 2008
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
O que a protecção dum ecrã nos faz.
Curioso como as pessoas se portam de uma forma diferente atrás de um ecrã do que portariam cara a cara. Confesso que já fui assim. Confesso porque não me quero superiorizar a qualquer outra pessoa. Admito talvez seja uma melhor palavra. Admito que já fui assim. Julgava que por estar atrás de um ecrã tudo me era permitido e que do lado de lá não estaria uma pessoa, e que provavelmente nunca estaria cara a cara com essa pessoa, e por isso podia dizer (escrever) o que quisesse.
Não sei a que ponto mudei. Não especifico o dia, hora ou minuto. Apenas sei que mudei e agora olho para trás e vejo o ridículo da situação. Atrás do outro monitor, do monitor de quem lê, está uma pessoa. Pessoa com sentimentos. Pessoa que chora, magoa ou no outro lado da escala se enfurece e nos vem dar uma carga de porrada. Compreenda-se que nada disto me aconteceu, que saiba, nem houve nenhum evento especifico que tenha provocado a minha mudança. Mudei apenas.
E porquê esta conversa toda? Porque encontrei alguém que ainda não mudou. Encontrei uma pessoa que julga que do lado de cá está um computador ou maquina apenas e não uma pessoa. Eu explico.
Passei esta semana passada a gerir o envio de uma campanha publicitária por e-mail. Com todos os detalhes envolvidos. Devoluções, mudanças de endereços, e claro pedidos de retirada da lista. É este último ponto que me levou a escrever. No final da publicidade, há um pequeno texto que informa a pessoa, que se quiser ser retirada da nossa lista basta responder com uma simples palavra no assunto. Há os que nem esta pequena e simples instrução conseguem seguir, mas não são desses que escrevo.
Importa detalhar que este envio ainda tem muito de toque pessoal. Não se trata de um envio despersonalizado e totalmente automatizado. Não. Eu pessoalmente irei re-ler as respostas, as devoluções e eventualmente as anulações. Uma a uma vou rever, tratar, corrigir e re-encaminhar conforme adequado.
Então vamos ao caso em si... uma senhora, directora de compras, com grandes responsabilidades num ramo a que estamos directamente ligados. Decide anular a sua presença na nossa lista. Responde-me como deve, seguindo as instruções. Respondo-lhe, num e-mail que foi obviamente escrito por alguém e não debitado por uma máquina, a perguntar o porquê da despedida visto que até tínhamos negócios similares. Resposta da senhora? Simples. Uma palavra apenas. Em maiúsculas no assunto: "BASTA!". Fantástico. Deve ser uma pérola a senhora. Apeteceu-me responder-lhe também...
"BASTA não... BESTA é o que a senhora deve ser. Uma muito boa vida para si."
...mas não o fiz. Prefiro partilhar a história com aqueles à minha volta para que todos possamos aprender com isto e talvez seguir uma regra que faço por cumprir desde que me lembro de escrever a pessoas: não escrever nada que não dissesse cara a cara a essa mesma pessoa, ou qualquer outra pessoa. Há vezes em que responder "à letra" não é a melhor solução, mas um dia encontrarei esta senhora cara a cara e tenho muita curiosidade do que vou encontrar do lado de lá.
Não sei a que ponto mudei. Não especifico o dia, hora ou minuto. Apenas sei que mudei e agora olho para trás e vejo o ridículo da situação. Atrás do outro monitor, do monitor de quem lê, está uma pessoa. Pessoa com sentimentos. Pessoa que chora, magoa ou no outro lado da escala se enfurece e nos vem dar uma carga de porrada. Compreenda-se que nada disto me aconteceu, que saiba, nem houve nenhum evento especifico que tenha provocado a minha mudança. Mudei apenas.
E porquê esta conversa toda? Porque encontrei alguém que ainda não mudou. Encontrei uma pessoa que julga que do lado de cá está um computador ou maquina apenas e não uma pessoa. Eu explico.
Passei esta semana passada a gerir o envio de uma campanha publicitária por e-mail. Com todos os detalhes envolvidos. Devoluções, mudanças de endereços, e claro pedidos de retirada da lista. É este último ponto que me levou a escrever. No final da publicidade, há um pequeno texto que informa a pessoa, que se quiser ser retirada da nossa lista basta responder com uma simples palavra no assunto. Há os que nem esta pequena e simples instrução conseguem seguir, mas não são desses que escrevo.
Importa detalhar que este envio ainda tem muito de toque pessoal. Não se trata de um envio despersonalizado e totalmente automatizado. Não. Eu pessoalmente irei re-ler as respostas, as devoluções e eventualmente as anulações. Uma a uma vou rever, tratar, corrigir e re-encaminhar conforme adequado.
Então vamos ao caso em si... uma senhora, directora de compras, com grandes responsabilidades num ramo a que estamos directamente ligados. Decide anular a sua presença na nossa lista. Responde-me como deve, seguindo as instruções. Respondo-lhe, num e-mail que foi obviamente escrito por alguém e não debitado por uma máquina, a perguntar o porquê da despedida visto que até tínhamos negócios similares. Resposta da senhora? Simples. Uma palavra apenas. Em maiúsculas no assunto: "BASTA!". Fantástico. Deve ser uma pérola a senhora. Apeteceu-me responder-lhe também...
"BASTA não... BESTA é o que a senhora deve ser. Uma muito boa vida para si."
...mas não o fiz. Prefiro partilhar a história com aqueles à minha volta para que todos possamos aprender com isto e talvez seguir uma regra que faço por cumprir desde que me lembro de escrever a pessoas: não escrever nada que não dissesse cara a cara a essa mesma pessoa, ou qualquer outra pessoa. Há vezes em que responder "à letra" não é a melhor solução, mas um dia encontrarei esta senhora cara a cara e tenho muita curiosidade do que vou encontrar do lado de lá.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Oferecem o que já traz? Que locura!
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Copiar sem pedir
Aos Senhores/as do Jardim de Infancia Pedrosas: não acham que antes de copiar e adaptar um texto que foi escrito por alguém deviam pedir autorização? Afinal de contas é tudo permitido ou tenho que aprender as regras do bom comportamento?
Bem sei que linkaram de volta para aqui... mas mesmo assim, perguntar não ofendia. Aliás, de certeza que não vos recusava o pedido, mas o sabor é acre e doce. Doce porque copiaram e linkaram, acre porque não pediram. Sempre é melhor que acre apenas.
O texto em questão.
EDIT!
Recebi resposta... o que me satisfaz, pois mostra que estão atentos. É sempre bom quando instituições de ensino estão atentas.
Também eu respondi...
Bem sei que linkaram de volta para aqui... mas mesmo assim, perguntar não ofendia. Aliás, de certeza que não vos recusava o pedido, mas o sabor é acre e doce. Doce porque copiaram e linkaram, acre porque não pediram. Sempre é melhor que acre apenas.
O texto em questão.
EDIT!
Recebi resposta... o que me satisfaz, pois mostra que estão atentos. É sempre bom quando instituições de ensino estão atentas.
Ex.mos srs
O meu sincero pedido de desculpa pelo facto ocorrido. Acredite que foi sem qualquer intenção e, admito, sem reflectir sobre o assunto. Quanto fiz referência ao texto foi pelo facto de o achar muito interessante. Porém, tal como referem, deveria ter pedido autorização.
Hoje mesmo comprometo-me a corrigir o erro, ou seja, a retirar tudo o que se encontra escrito.
Mais uma vez, as minhas sinceras desculpas pelo facto ocorrido
Sempre ao dispor
M
Também eu respondi...
Boa tarde,
De forma alguma precisa de retirar, nem era minha intenção que retirasse o texto. Tudo o que tenha a ver com crianças tem o meu total apoio. Pode manter o texto, e se quiser, altera-lo como entender.
A internet permite o fácil acesso a um sem fim de recursos, tão fácil que por vezes nos esquecemos que alguns destes recursos têm "dono". Até lhe dou os parabéns por ao menos referenciar o meu blog, coisa que é rara. Infelizmente já encontrei textos da minha autoria espalhados ao vento sem uma única referência à origem.
Desejos de um bom trabalho.
Cumprimentos,
-mw
terça-feira, 7 de outubro de 2008
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
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