sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O que a protecção dum ecrã nos faz.

Curioso como as pessoas se portam de uma forma diferente atrás de um ecrã do que portariam cara a cara. Confesso que já fui assim. Confesso porque não me quero superiorizar a qualquer outra pessoa. Admito talvez seja uma melhor palavra. Admito que já fui assim. Julgava que por estar atrás de um ecrã tudo me era permitido e que do lado de lá não estaria uma pessoa, e que provavelmente nunca estaria cara a cara com essa pessoa, e por isso podia dizer (escrever) o que quisesse.

Não sei a que ponto mudei. Não especifico o dia, hora ou minuto. Apenas sei que mudei e agora olho para trás e vejo o ridículo da situação. Atrás do outro monitor, do monitor de quem lê, está uma pessoa. Pessoa com sentimentos. Pessoa que chora, magoa ou no outro lado da escala se enfurece e nos vem dar uma carga de porrada. Compreenda-se que nada disto me aconteceu, que saiba, nem houve nenhum evento especifico que tenha provocado a minha mudança. Mudei apenas.

E porquê esta conversa toda? Porque encontrei alguém que ainda não mudou. Encontrei uma pessoa que julga que do lado de cá está um computador ou maquina apenas e não uma pessoa. Eu explico.

Passei esta semana passada a gerir o envio de uma campanha publicitária por e-mail. Com todos os detalhes envolvidos. Devoluções, mudanças de endereços, e claro pedidos de retirada da lista. É este último ponto que me levou a escrever. No final da publicidade, há um pequeno texto que informa a pessoa, que se quiser ser retirada da nossa lista basta responder com uma simples palavra no assunto. Há os que nem esta pequena e simples instrução conseguem seguir, mas não são desses que escrevo.

Importa detalhar que este envio ainda tem muito de toque pessoal. Não se trata de um envio despersonalizado e totalmente automatizado. Não. Eu pessoalmente irei re-ler as respostas, as devoluções e eventualmente as anulações. Uma a uma vou rever, tratar, corrigir e re-encaminhar conforme adequado.

Então vamos ao caso em si... uma senhora, directora de compras, com grandes responsabilidades num ramo a que estamos directamente ligados. Decide anular a sua presença na nossa lista. Responde-me como deve, seguindo as instruções. Respondo-lhe, num e-mail que foi obviamente escrito por alguém e não debitado por uma máquina, a perguntar o porquê da despedida visto que até tínhamos negócios similares. Resposta da senhora? Simples. Uma palavra apenas. Em maiúsculas no assunto: "BASTA!". Fantástico. Deve ser uma pérola a senhora. Apeteceu-me responder-lhe também...

"BASTA não... BESTA é o que a senhora deve ser. Uma muito boa vida para si."

...mas não o fiz. Prefiro partilhar a história com aqueles à minha volta para que todos possamos aprender com isto e talvez seguir uma regra que faço por cumprir desde que me lembro de escrever a pessoas: não escrever nada que não dissesse cara a cara a essa mesma pessoa, ou qualquer outra pessoa. Há vezes em que responder "à letra" não é a melhor solução, mas um dia encontrarei esta senhora cara a cara e tenho muita curiosidade do que vou encontrar do lado de lá.

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