sexta-feira, 23 de setembro de 2005

amanha

Caso-me amanhã. Vou para fora. Volto daqui a 15 dias.... casado, espero. :-)

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

corre corre cabacinha

Era uma vez uma velha muito velhinha como só as velhas velhinhas o são. Como todas as velhinhas nas histórias de "era uma vez", ela vivia na floresta sozinha. Porque vivem as velhinhas muito velhinhas nas florestas é algo que um dia será explicado mas certamente não hoje. Ora esta velha muito velhinha ao contrário da prima direita que também ela era velha muito velhinha, não era avó e não tinha, por isso, uma netinha que lhe trouxesse um cestinho com comida. Lá tinha a velha muito velhinha de ir à vila fazer as compras para a semana se não quisesse fazer uma dieta forçada.

Para não fugir ao que é típico nestas histórias, é agora altura de falar no lobo que também habitava a floresta e que procurava a todas as alturas comer a velha muito velhinha. Note-se que o autor não se refere a gerontófilia quando se refere ao lobo que queria comer a velhinha, mas sim falamos no lado gastronómico. Com tanto coelho e outros animais da floresta é um mistério porque razão os lobos preferem as velhinhas nestas histórias de "era uma vez". Talvez fosse uma tendência de família já que o primo em segundo grau deste mesmo lobo tinha já comido uma velhinha numa vila vizinha, mas a coisa não correu muito bem pois a netinha da velhinha salvou a sua avózinha da barriga do lobo.

Adiante, a velha muito velhinha, ia alternando os dias que ia à vila para as compras da semana para não criar uma rotina que o lobo pudesse prever. Era uma velhinha espertinha portanto. Ora calhou que esta semana fosse à vila na quarta-feira. Saiu de casa de cesto em mão pronta para as compras da semana. Prometeu a si própria que da próxima vez que fosse à cidade compraria um daqueles "trolleys" com rodinhas para ir às compras que isto dos cestos é muito bonito, mas verdade seja dita, muito pouco prático. Acartar com as compras todas ao braço podia até ser prejudicial para a postura da velha muito velhinha mas até agora muito direitinha.

Saiu de casa com os devidos cuidados para se certificar que o lobo não estava presente. Verificou as webcams com sensores de movimento que tinha espalhado pela floresta e confirmou que o lobo não se encontrava por perto. Afinal de contas, velha velhinha, mas muito moderninha. Tinha todos os métodos mais modernos de segurança e prevenção de intrusos. Não era à toa que o lobo ainda não tinha caçado a velhinha. Rumou direcção à vila pelo caminho que fazia todas as semanas. Chegando à vila foi de loja em loja comprando o que lhe faltava em casa.

Foi à loja do Sr. Manel do talho e comprou as belas bifanas. O Sr. Manel ainda lhe tentou vender a picanha argentina, mas a velha muito velhinha dizia que não gostava dessas modernices. Carninha boa é da nossa, das nossas vaquinhas e porquinhos. Mal sabia ela que as febras que comprava tinham vindo de Espanha, mas também não foi o Sr. Manel que a alertou para o facto. Ao lado era a loja da D. Ermelinda que tinha os melhores legumes daquela vila e arredores. Crescia-os ela própria numa estufa que tinha feito com o que restou de um subsidio da comunidade europeia. Ao contrário do marido que lhe tinha fugido com uma loira espampanante depois de ter gasto metade do subsidio num Ford Escort 1.2 Gti descapotável. Dizem que ficou sem gasolina na vila mais próxima e que a loira agora lhe azucrinava o juízo todos os dias. Era bem feito pensava a D. Ermelinda

Foi quando chegou à loja de fruta do Sr. António que era ele também um velho muito velhinho. Enquanto escolhia uns alperces com um aspecto delicioso, o Sr. António a alertou-a para o que ia estragar um belo dia de compras. O lobo estava à espera da velha muito velhinha nas esperança de lhe fazer uma emboscada e finalmente satisfazer os seus desejos gastronómicos e um pouco fetichistas. A velha muito velhinha ficou muito enrascadinha sem saber o que havia de fazer. O Sr. António prontamente lhe ofereceu dormida, pois desde que sua Sra. Dona Aida tinha falecidoo que ele dormia com os pés frio à noite. A velha muito velhinha agradeceu a oferta mas descuplou-se que tinha deixado uns downloads em curso e que se não chegasse a casa antes de terminarem as happy hours iria pagar uma fortuna por ultrapassar os limites. O Sr. António entendeu perfeitamente e pensou em informar a velha velhinha que havia uns programas que tratavam disso automaticamente, mas achou que agora haveria assuntos mais importantes para resolver: nomeadamente a questão do lobo e do seu fetiche gastronómico.

Após alguns minutos de preocupação foi o Sr. António que apresentou uma solução. "Já sei" disse ele "e se a a escondêssemos dentro de uma cabaças e a rebolássemos até casa?" Ora mas que bela ideia. Chegaria um pouco tonta a casa, mas nada a que não estivesse habituada desde que tinha comprado aquele distilador da ultima vez que foi à cidade. Era conhecida por fazer a aguardente mais potente da vila e arredores. Não eram umas voltas de cabaça que lhe iam fazer mal.

Dito e feito, e após algum trabalho a retirar o interior da cabaça lá conseguiram caber a velha muito velhinha que era também muito pequenina dentro da cabaça que de pequenina não tinha nada. Agarrou-se às compras que tinha feito e o Sr. António fechou a cabaça o melhor que pôde e reboulou a cabaça até à porta. Cuidadosamente apontou a cabaça em direcção à casa da velhinha que para além de ser em linha recta era também e declive até à sua porta. A cabaça começou a rodar, primeiro lentamente e devagarinho a ganhar velocidade. O Sr. António via cá de cima com um orgulho bestial a sua apontaria pois parecia que a direcção era perfeita.

Quando a cabaça ia já a meio caminho saiu o lobo de trás de uns arbustos e correu atrás da cabaça. Nesta altura o Sr. António pôs as mãos à cabeça pensando que iria perder uma cliente e a esperança que um dia a velhinha muito velhinha um dia lhe aquecesse os pés nas noites frias. O lobo correu e correu e quando estava ao lado da cabaça virou-se para a cabaça e perguntou: "ó cabaça cabacinha, tu que vieste da vila, não lá viste uma velha muito velhinha?"

Aqui talvez seja o momento ideal para fazer uma pausa e relembrar o leitor que isto é uma história "era uma vez". Neste tipo de história, independentemente da esperteza ou falta dela do lobo em questão, as cabaças podem falar com a mesma facilidade com que o lobo falava. Apesar de ser mais habitual os lobos falarem, nada impedia que a cabaça pudesse responder ao lobo com a mesma naturalidade com que este esperava uma resposta.

A velha muito velhinha rolava monte abaixo enfiada na cabacinha. Achou que o lobo iria estranhar se a cabaça não lhe respondesse e então ela arriscou uma resposta "Corre corre cabacinha, corre corre cabaçona, não vi velha nem velhinha nem velhinha nem velhona". E o lobo inicialmente desapontado resolveu perguntar novamente "O cabaça cabacinha, tens mesmo a certeza que não viste uma velha muito velhinha?" Respondeu a velhinha pela cabaça novamente "Corre corre cabaçinha, corre corre cabaçona, não vi velha nem velhinha nem velhinha nem velhona". Apesar de desapontado o lobo ficou satisfeito com a resposta e desacelarou o seu passo deixando a cabaça prosseguir o seu rumo.

O Sr. António na vila pulava de felicidade ao ver o lobo afastar-se da cabaça. O lobo ficou a ver a cabaça a rolar em direcção da casa da velha muito velhinha. A cabaça rolava e rolava e rolava até que chegou a jardim da velha velhinha, atropelou as rosas que a velha muito velhinha tratava como muito amor e carinho, e parou mesmo à porta. Saltou a tampa da cabaça e de lá dentro saiu a cambaleante velha muito velhinha... olhou para trás viu o lobo a meio da colina com um ar mais surpreso do que faria qualquer um de nós se uma cabaça nos respondesse a uma pergunta feita. Abriu a porta e entrou em casa com as compras da semana. Missão cumprida, para a semana há mais.

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Capitulo 1

Acordou estremecida. Um barulho estranho. Um despertador mas não era o dela. Esticou a mão para carregar no botão que lhe permitiria mais 7 minutos de sono. Não encontrou o botão. Abriu os olhos e por breves instantes sentiu-se confusa. A janela não estava no sitio certo, a porta não estava onde era suposto, os armários tinham mudado de lado e o despertador não párava de tocar. Era o despertador no telemóvel, abriu-lhe a tampa, carregou na tecla vermelha e encostou-se novamente na cama. De repente, como um flash fotográfico, reconheceu o quarto de hóspedes da casa dos páis. Como uma cataráta, os eventos do dia anterior passavam diante dos seus ólhos novamente fechados. Sentiu uma dôr no peito. Olhou para o lado num desejo involuntário de ainda o vêr ao seu lado. Não viu. Pensou que queria chorar, mas não o fez. Por algum motivo não foi capaz.

Recordações misturaram-se com sonhos mas era tudo no passado. Não um passado distante mas sem dúvida um passado. Lembrava-se do dia em que o conheceu. Das semanas que se seguiram. Das coisas que tinham feito, dos sítios onde tinham ido. Lembrava-se de como as coisas eram e deixaram de ser. Sem perceber bem porquê. Parecia inevitável. Seria? Lembrou-se do casamento, lembrou-se dos momentos depois. Da viagem que tinham feito. Tentava lembrar-se do momento em que tudo mudou mas não o conseguia apontar. Ele tinha dito que tinha sido aos poucos, como um copo de água que enche gota a gota até transbordar. Tinha transbordado ontem, mas não se lembrava quando tinha começado a encher nem ele lhe tinha dito. Era mais fácil acreditar que ele tinha outra, mas no fundo sabia que não. Tinham-se apenas afastado, ontem, por completo.

A luz entrava de pela janela mál fechada recordando-a que havia uma vida lá fora, fora deste quarto estranho, fora da sua cabeça. A urgência do momento entrou de rompante nos seus pensamentos e fe-la sentar-se na cama. Olhou à volta. O silêncio invadia os cantos quase escuros do quarto. Nos seus pensamentos não havia silêncio. Já pensava no trabalho e no que tinha para fazer hoje. Já delineava a agenda diária antes de sequer se ter destapado e posto os pês no soalho frio para procurar as suas pantufas cuidadosamente desarrumadas ao lado da cama. Levantou-se, pegou no necessaire ainda dentro de uma mala semi-aberta e dirigiu-se para a casa de banho.

Na casa de banho fez o ritual que sempre fazia. São os rituais da vida que nos dão os alicerces para vivermos pensou ela ainda semi ensonada. Acontecesse o que acontecesse teria sempre de tomar banho, vestir-se, arranjar-se e preparar-se para o que o mundo lhe tinha para dár ou vender. Saiu da casa de banho já mais acordada e ainda a delinear as actividades para o dia quando foi interrompida por um pensamento habitual mas violento. O que é que vou vestir? Após desarruamr meia mala, vestiu-se cuidadosamente olhando-se no espelho do armário velho naquele quarto de hóspedes. Virou-se de lado e olhou-se novamente ao espelho. Estava cansada, mas disfarçava. Estava pronta para o que o dia lhe atirasse, ou pelo menos mais pronta depois do que o dia lhe tinha atirado ontem.

Na outra ponta da casa já ouvia os pais. Estariam com certeza na cozinha a preparar-lhe um pequeno almoço como só os pais sabem preparar para uma filha desgostósa. Apetecia-lhe esse pequeno almoço, mas não lhe apetecia explicar o que se tinha passado aos seus pais. Queria que eles não perguntassem nada como lhes tinha pedido no dia anterior quando tinha chegado ao final da tarde. Ontem tinha chorado. Hoje não lhe apetecia. Sabia que os pais não lhe iriam fazer perguntas esperando pacientemente por uma explicação, mas os olhos não mentem. Sentiria a dor nos ólhos dos pais ao verem a filha separada, ao acharem que ela estava a sofrer. Ela própria não sabia o que sentir, por um lado tinha pena, mas não se achava a sofrer.

Respirou fundo, abriu a porta do quarto sabendo que o primeiro passo para fora daquele quarto seria como um primeiro passo numa vida nova. Seria uma nova fase da sua vida igual em quase todos os sentidos menos um. Um pequeno grande detalhe, mais que um detalhe. Era mais como uma moldura. Agora era como um quadro sem moldura. Caminhou em direcção à cozinha, sorriu para os pais que a olhavam com um ar preocupado mas tentando disfarçar. Como se fosse normal que a filha acordasse todos os dias lá em casa. Bebeu o sumo de laranja fresco que lhe tinham espremido, fingiu pressa, disfarçou dizendo que estava atrasada deu um beijo a cada um e despediu-se enquanto já abria a porta para sair. Fechou a porta e limpou uma lagrima que saiu enquanto esperava pelo elevador.

Entrou no carro ligou-o. Olhou-se ao espelho ajeitou o cabelo e colocou os óculos escuros. Estava um bonito dia de sol. Abriu a janela para respirar o ar fresco. Resolveu fazer o caminho mais longo. Não era por mais 10 minutos que a empresa fecharia e dava-lhe um pouco mais de tempo para pensar na vida. Na nova vida. Tirou o carro do estacionamento e arrancou em direcção à sua nova velha vida.

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Capitulo 1

O sol ergueu-se como em todos os outros dias. A manhã começou e o despertador tocou umas horas depois. Ele acordou sentou-se no seu lado da cama e esfregou os olhos. Mais um dia. Olhou para o outro lado da cama onde ainda ontem tinha dormido a sua mulher. Agora a sua ex-mulher. Mais um dia. O dia anterior tinha sido complicado e tinha começado como este. Seria este mais um dia complicado? Olhou para a sua almofada de penas, companheira de longa data, já desde os seus tempos de solteiro. Entre noites sozinho ou acompanhado aquela almofada já tinha passado alegrias, tristezas e ansiedades. Aquela almofada já tinha passado mais tempo com ele do que qualquer outra coisa ou pessoa na sua vida. Endireitou a almofada, sorriu, levantou-se e dirigiu-se para a casa de banho.

Tomou banho como tomava todos os dias. Com a mente a ainda fervilhar com sonhos da noite dormida. Sonhos que se esqueceria assim que saísse da banheira. Pensava na vida, fazia planos enquanto fazia a sua rotina diária. Lavar dentes, barba, desodorizante. Via as unhas e inconscientemente tomava a decisão se era dia de corta-las ou não. Com o ritual completo olhou-se ao espelho para por fim endireitar o cabelo desarrumado pela toalha. Estava cansado. Via-se na cara que estava. O dia anterior tinha sido complicado. Nunca é fácil dizer a alguém que já não a amamos, quanto mais quando essa pessoa não está à espera de tal afirmação. Pensou que se ele estava neste estado, como estaria ela? Resolveu não pensar nisso.

A vida tinha-os afastado e parecia que só ele é que tinha dado por isso. Há muito que faziam vidas separadas. Não conseguia determinar o ponto exacto em que tinha acontecido, porque talvez o ponto não existisse, mas tinham deixado de contar um com o outro para o que quer que fosse. Aos pouco tinha deixado de a amar. Viver sem amor não fazia sentido. Inconscientemente ou conscientemente, quem sabe, as suas diferenças tinham-nos separado. Ele sabia que haveria sempre a dúvida se ele teria outra, mas não tinha. Pelo menos ali naquele presente. Naquele presente havia apenas as diferenças que os tinham separado e o vazio que já havia à muito tempo.

Não estava em condições para ir trabalhar, mas também não estava em condições de não ir. Actividades não lhe faltavam, mas o trabalho era agora o que o ocupava mais. Longe estavam os tempos em que trabalhavam ambos no mesmo sítio e se viam todos os dias, várias vezes ao dia. Falavam ao telefone. Almoçavam juntos. Era algo em comum, mas até isso acabou. Ela ficou mas ele não. Ele mudou. Ele seguiu os sonhos e ela não. Ela tinha sido fulcral na decisão dele. Lembrava-se agora das palavras de incentivo que ela lhe deu quando as dúvidas o assolavam. Ela incentivou-o a seguir os sonhos sem se aperceber que ela ficaria para trás. Ele tinha içado a vela e afastava-se do porto de abrigo enquanto ela, de ferro na água, rodava a proa rumo ao vento que mudava, mas não saía de onde estava.

Vestiu-se, pôs as velhas botas pretas agarrou no capacete e saiu de casa. Da garagem tirou a mota, puxou o ar, carregou no arranque e pegou à primeira rotação do motor com uma fiabilidade que a vida não tinha. Se tudo fosse tão fiável como a sua mota. A vida era um tédio, pensou sorrindo. Colocou o capacete, apertou o casaco, calçou as luvas, engatou a primeira e arrancou.

terça-feira, 13 de setembro de 2005

falam falam falam

Antes de nos casarmos todos perguntam "e tu quando é que te casas?". Quando vamos a casamento dizem baboseiras como "a seguir és tu". As mulheres até atiram flores em decomposição para ver a quem calha a "sorte" de ser a seguinte. Ainda hei-de pesquisar a tradição ou lenda por detrás deste curioso ritual, mas adiante...

Quando tomamos a decisão de casar há sempre um que diz "não faças isso". Onde estava esse quando nos perguntavam "e tu, quando é que te casas?"? Há o dia em que se toma o passo e tomamos uma decisão que esperamos seja para a vida. Uma pessoa pensa que está preparada, e até pode estar, e vai. Dá um passo à frente saca do anel que custou um braço e uma perna e pergunta "Queres casar comigo?". Regra geral a resposta é positiva e nesse momento a sua vida muda em mais aspectos do que pode imaginar. Muda até ao dia do casamento. Depois do casamento até pode voltar ao que era antes, mas até lá... noite e dia.

Não estou a falar dos clichés todos de que a vida sexual acaba ou que acabou a liberdade ou que elas mudam, não. Acho isso uma seca de conversa, a chamada conversa da treta. Vou falar da coisa que ninguém me disse. Ninguém me avisou. Vou falar do que não me tinha lembrado e que gostava que me tivessem informado.

A partir do dia do pedido, a partir do dia em que é verbalizado o desejo de matrimónio, não passará um dia que seja sem que se tenha de falar nisso. Sem que se tenha de tratar de qualquer coisa para isso, sem que se tenha de falar do que fizeste do que falta fazer ou no mínimo ouvir tudo o que a cara metade já fez e o que te calha a ti para fazeres. Não estou a falar dos 300 EUR que se gasta na conservatória, da fila de espera, da senhora antipática atrás do balcão. Não estou a falar do Diácono com mania que é mais direito que uma estrada num deserto americano. Não estou a falar da escolha da igreja, da quinta, do local, do menu, dos convites, do missal, das alianças, da música... não. Estou a falar do falar.

Estou a falar dos amigos que perguntam, estou a falar da família que pergunta, estou a falar de todos os dias repetir a mesma coisa para cima de 20 vezes para depois chegar a casa e falar do que se fez, está feito e o que falta. Ter que passar todas as horas em que se está acordado a pensar no casamento porque nos obrigam a falar dele. Isto para o leigo, para aquele que está a pensar em tomar o passo, pode parecer normal, suportável ou até uma reacção exagerada da minha parte, mas acredite quem lê estas frases: não é!!!!!!!

Eu já não posso ouvir falar no meu casamento! Estou ansioso que chegue o dia para poder deixar de falar dele.

"Então, está quase ah?"
"Está tudo a correr bem?"
"Então como vão os preparativos?"
"Então esse stress?"
"Não vais fugir, pois não?"
"Eu depois de te casares conto-te umas coisas..."

Eu acredito que o interesse seja genuíno, em alguns casos, que as intenções sejam as melhores, mas pensem lá um bocado antes de fazerem a pergunta TODOS OS DIAS! Do amigo que não vejo há uma semana ou mais, ok, é normal, é conversa. Agora do colega de trabalho com quem estou todos os dias, ou do amigo que vejo dia sim dia não... não. Por favor. Chega.

Não interpretem estas palavras como dúvidas ou falta de amor ou falta até de vontade, não, longe disso. Estas palavras são o estar cansado de falar do casamento. Chega de falar. Vamos lá a passar à acção. Estou farto de tratar e tenho a sorte de ter uma noiva que me tem tratado de tudo. Que venha o dia e o dia seguinte porque dos dias antes já estou eu farto!

Aviso portanto a quem se pense em casar: arranjem lá um esquema qualquer e falem o menos possível sobre o dia. Falem apenas o essencial e quando os amigos trouxerem a conversa ao de cima, mudem o assunto. Quando se falar nisso no jantar habitual de sexta com os amigos, falem antes do jogo de futebol que não viram ou da Formula 1 e do nosso Tiago Monteiro. Falem da política, da desgraça ou do Katrina, mas por favor.. não me falem mais no casamento!

A minha consciência fica mais tranquila, passei um aviso, que não me passaram a mim.

a espingarda

Aos meus 10 ou 11 ou 12 anos recebi uma pressão de ar como presente de um Sr. Grego que foi brevemente meu cunhado. Aos 10 ou 11 ou 12 não sabia o que era um cunhado, mas o presente colocou-o ali ao lado dos tios que estavam "na frança" e o meu padrinho e madrinha que via de vez em quando mas que tinham sempre um presente para me dar. Desde que me lembro tinha uma fascinação por armas que um dia espero descobrir se era normal ou não através dos meus próprios filhos. Tudo o que tivesse a ver com pistolas, espingardas, facas era coleccionado religiosamente. Livros, catálogos, fotografias etc etc. Recordo-me de uma ida a uma daquelas lojas de brinquedos de 3 andares em Nova Iorque e os meus pais me terem dito "Passeia à vontade e escolhe um brinquedo qualquer que te oferecemos". Depois de cerca de 2 horas a correr a loja a pente fino, e os meus pais terem ido passear para outro lado qualquer, lá me encontrei com eles à hora combinada com o meu futuro presente na mão... uma espingarda de ferro e plástico. Não me recordo bem como, mas as regras da escolha foram alteradas assim que me viram de espingarda em punho. Convenceram-me a trocar... não podia escolher pistolas nem espingardas. Troquei a arma por um conjunto de truques de magia dentro de uma cartola. Era a segunda melhor coisa: magia.

A pressão de ar foi a minha primeira arma "verdadeira". As idas à vivenda da Avó Maria tiveram novo significado. Passava o lanche a pensar na espingarda que tinha ficado à entrada da casa. Comia à pressa e respondia a todas as perguntas que me faziam. Assim que havia uma pausa na conversa ou as atenções divagavam de mim para um outro assunto qualquer, lá pedia se podia ir brincar. Passei fins de semana em casa da Avó Maria aos tiros a soldados imaginários. Fazia de sniper antes de sequer saber o que era um sniper. Venci guerras sozinho e não importava que algumas vezes nem tivesse chumbinhos para colocar na arma. A arma tinha levado uma mola de uma Diana modelo de competição. Apesar de não saber bem o que isso queria dizer, soava-me importante e contava-o a todos os amigos. Tinham-me dito que disparar a seco fazia mal à mola e por isso evitava-o, mas a imaginação de uma criança de 10 ou 11 ou 12 anos não precisa de barulho e muito menos de chumbinhos a saírem de um cano para se divertir com uma espingarda.

Após alguma educação e demonstrações feitas pelo meu pai e ele se ter certificado que eu sabia mezer na arma e que não ía fazer nenhuma parvoice lá me deu a caixa de chumbos para a mão e deixou-me a sós com a minha espingarda.

Em pouco tempo já era um atirador bastante certeiro. Primeiro a alvos de papel que tinham sido presenteados juntamente com a arma. Quando os alvos de papel acabaram, descobri o gozo da destruição sonora das latas e das garrafas que só se partiam a partir da quinta chumbada certeira. Depressa descobri que as garrafas só eram boa ideia se depois não tivesse que limpar os restos mortais. As pinhas no topo dos pinheiros também faziam bons alvos e se o tiro fosse suficientemente certeiro e a estação fosse certa, caía a pinha ao chão com uns deliciosos pinhões para comer! A pouco e pouco a arma foi sendo apontada a cada vez mais coisas. Era inevitável a minha primeira caçada, que foi também a ultima. Jurei nunca mais dar um tiro num bicho ao vê-lo cair da árvore onde estava, bater no chão e continuar a tentar bater as asas para tentar fugir. Quase chorei. O pássaro sangrava no chão e estava em evidente sofrimento. Eu era responsável pelo sofrimento do bicho e por isso tinha de acabar com esse sofrimento. Um segundo tiro certeiro tirou-lhe a vida, mas tirou-lhe o sofrimento também. Quase chorei novamente. Nesse dia guardei a arma e não disparei mais.

Num verão que arma me acompanhou para o Algarve, foi a única vez que me tiraram a arma como castigo por ter dado um tiro na lâmpada do quintal da vizinha. O mais giro desta história é que não fui eu a dar o tiro mas assumi as culpas porque o amigo que tinha dado o tiro teve medo de assumir a responsabilidade perante os meus pais. Disse que tinha sido eu e que pensava que não ia acertar. Uma clara mentira e os meus pais sabiam-no. A arma foi devolvida dias depois com a promessa que não atiraríamos a nada para além dos muros da casa.

Na varanda do meu sétimo andar fazia tiro ao alvo a uma distancia de 2 ou 3 metros. Claro que tinha sido proibido de disparar a arma pela janela, mas sem os pais em casa era também inevitável que eventualmente o fizesse. Olhando hoje para trás vejo a irresponsabilidade do que fazia, mas tinha razões para acreditar plenamente na minha apontaria. Era um atirador exímio. Irresponsável talvez, mas exímio. Nos seus anos mais tardios a espingarda ganhou uma mira telescópica oferecida pelos meus tios que tinham vindo "da França". A mira deu novo interesse à pressão de ár, mas se sem mira eu já era certeiro, então com mira era imparável. Acertava em tudo a que atirava. Senão à primeira à segunda era de certeza. Eram garrafas, latas, candeeiros, pés dos amigos que chegavam da escola e até uma vez o cu dum amigo que se preparava para entrar na piscina a uma distancia superior a 100 metros! Rapidamente perdeu a graça e tirei a mira para voltar a ter alguma sensação de perícia. Com mira telescópica era muito fácil.

A espingarda acompanhou a minha adolescência toda. Não sei se lhe posso chamar de brinquedo pois nem eu a via dessa forma. Tive sorte, talvez, em nunca ter aleijado ninguém nem me ter aleijado a mim próprio, a não ser anos mais tarde em que numa limpeza habitual enfiei um chumbo no dedo. As limpezas eram um ritual cuidado em que desmontava a espingarda peça a peça e com um óleo especial a lubrificava peça a peça. Naquela manhã carreguei a arma com o que pensava ser ar apenas para tirar o excesso de óleo dentro do cano mas juntamente com o óleo saiu um chumbo que se alojou na base do meu polegar. O chumbo já la estava dentro e eu não o vi. Erro. Podia ter sido mais chato. Passei 8 horas no S. Francisco Xavier à espera de uma pequena cirurgia para me tirar o chumbo. Ainda o guardei por uns anos mas depois perdi-o. A espingarda ainda a tenho e nunca me hei-de desfazer dela.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

a segunda-feira...

Há muito tempo, quando o tempo mál existia e os deuses rumavam a terra, o tédio era muito. Não havia nada que fazer e também não se esforçavam para fazer o pouco que havia. Faltava qualquer coisa. Na reunião geral dos deuses não se chegou a conclusão nenhuma como é habitual nas reuniões gerais. Houve, no entanto, um deus que nos dias seguintes à reunião achou que faltava uma medida de tempo. Faltava o passado o presente e o futuro. Faltava uma medida e referência. Falava-se do ontem do antes de ontem, falava-se do mês passado mas pouco mais. Só se falava no que tinha acontecido há 2 dias porque dizer "antes-antes d'ontem" soava mal. Só se pensava no amanha e no depois de amanha, ou então para o mês ou ano que vem. Faltava o meio termo. Faltava poder falar de os 8 dias que passaram ou dos 8 que vinham. Esse deus, chamemos-lhe o Semanário por falta de nome melhor, criou então os dias da semana. Eram 8. A primeira-feira, a segunda-feira, terça-feira e por aí a diante. A sétima feira soava mal e então para variar chamou-lhe sábado e o dia a seguir foi o domingo. Depois de domingo voltaria então a primeira-feira num ciclo repetitivo mas confortável. Semanário nomeou aquele dia de Domingo e por isso alguns confundem o Domingo como o primeiro dia da semana, mas era apenas Domingo para que a primeira-feira tivesse as 24h necessárias para ser um dia e o porque aquele dia já ia a mais de meio.

Semanário informou os deuses, da maneira que um deus informa os outros deuses, da sua nova criação: os dias da semana. Os deuses aplaudiram a ideia e Semanário sentiu orgulho na sua criação. Era agora possível ter um nome para cada dia. Era possível planear coisas para além de depois de amanha. Era possível recordar coisas que se tinham passado antes de ontem. Como as dietas de hoje em dia, Semanário disse "A semana começa amanha", e ao contrário das dietas de hoje em dia, assim foi.

O Domingo passou depressa, como que um pressagio do que aconteceria a todos os domingos dali para a frente, e veio a primeira-feira. Na primeira primeira feira do mundo, e quem sabe do universo, deu-se um fenómeno que só os deuses sabem explicar mas que ainda não o fizeram. Nessa primeira primeira feira a depressão foi geral. Era que nem uma nuvem a pairar sobre a cabeça de cada Deus. Não fossem os deuses imortais, metade teriam cometido suicídio e os que sobrevivessem matavam-se uns aos outros devido a terem inexplicavelmente acordado de mau humor. A primeira-feira assinalava o inicio de mais uma semana, a passagem da anterior e o final dos dois últimos dias da semana chamado o fim de semana. O que faria dos primeiros dois dias o principio da semana. A primeira primeira-feira foi um dia negro na história dos Deuses. Ainda nem metade da primeira primeira-feira tinha passado e já se falava em guerra, já se falava no fim da terra, já se falava em revolução. Foi então que todo este chinfrim foi interrompido por um grande cometa que apareceu no céu como só os cometas sabem aparecer. Voava através do de uma forma que só um cometa o faz. Só os deuses sabem porque apareceu o cometa e mais uma vez, ainda não explicaram. Especula-se que tenha sido o deus dos deuses a enviar o cometa para que acabasse com a Terra para que os deuses tivessem qualquer coisa que fazer para acabar com o tédio, mas isto parece lógico demais. O mais provável é que o deus dos deuses se encontrasse também ele de mau humor na primeira primeira-feira e enviasse o cometa só para chatear. Seja qual for a razão o certo é que o cometa, para além de rasgar o céu, rasgou também o tédio.

O deus mais deprimido de todos era sem dúvida Semanário. Então aquilo que era para ser um inicio de uma nova era, uma era de dias com nomes começava por ser uma era de depressão e zangas. O cometa era apenas a cereja no topo do gelado com chantily. A tal cereja que nem os deuses sabem explicar a razão da sua existência no topo do chantily. Semanário estava desesperado. Não era assim que ele tinha imaginado, não era assim que ele tinha planeado... afinal de contas nem os planos dos deuses correm como planeado e queremos nós que os nossos corram. Se isto era a primeira primeira-feira Semanário nem queria imaginar como seria de primeira-feira a oito, a segunda primeira-feira. Foi aqui também que teve origem a frase "de sábado a oito" ora oito dias depois de sábado seria sábado novamente.

Foi convocada uma reunião geral de emergência onde novamente nada se decidiu, mas muito se discutiu. Não se chegou a conclusão nenhuma e a primeira primeira-feira ainda ainda pouco passava de meio. Mais uma vez semanário sentou-se a pensar, não que não conseguisse pensar de pé mas já lhe doíam os pés. Isto de um deus andar descalço tem muito que se lhe diga. Semanário tentava manter a calma apesar do cometa se aproximar a uma velocidade alarmante se mais que não seja pelo barulho que fazia. Foi quando o impacto estava iminente que Semanário teve uma ideia brilhante. Brilhante devido à aproximação do final da primeira pois até se conseguiu ver a luminosidade da ideia. Se fosse meio dia teria sido mais difícil chamar-lhe uma ideia brilhante pois a luminosidade do sol ofuscaria o brilhantismo.

Semanário levantou-se, ergueu os braços e acabou com o dia. A relação de levantar os braços com o acabar do dia ainda não foi bem identificada e pensa-se que nada tem a ver. A primeira primeira-feira acabou repentinamente e durante umas horas houve o vazio. Vazio esse que durou até ao final do dia que seria a primeira e única primeira feira. Com o dia desapareceram os problemas que até então se encontravam apenas relacionados com as primeiras feiras. Mais importantemente desapareceu o cometa que acabaria com a primeira primeira-feira e faria que a primeira segunda feira nem sequer acontecesse. Ora Semanário não queria ver a sua criação repentinamente acabada e preferiu perder um dia do que perder a semana.

A primeira semana de existência da primeira semana começou numa primeira-feira. A primeira-feira nunca acabou naturalmente, tendo a segunda-feira repentinamente tomado o seu lugar no inicio da semana que passou apenas a ter um dia e não dois como o fim de semana. A seguir a domingo viria a segunda feira seguida pelo resto dos dias da semana. A segunda feira, apesar de um mau dia nunca seria tão mau com a primeira feira. Nem os deuses algum dia mais falaram da primeira primeira-feira. Segunda-feira seria um dia de recuperação, de ressaca, de mau humor mas nunca ao ponto do que tinha sido a primeira e única primeira-feira. Seria assim até ao final do tempo. Tempo esse que ainda não acabou. Uma curiosidade é que ainda hoje se diz de "segunda a oito" como indicação de para a semana no mesmo dia, apesar de "segunda a oito" seja terça-feira e não segunda-feira.

domingo, 11 de setembro de 2005

altura certa

Acordou. Não se lembrava de nada. Olhou à volta, doíam-lhe os ouvidos. Barulho, constante, repetitivo. Olhou à volta sentiu um peso nas costas. Tinha uma mochila às costas. Olhou à volta novamente. Era um avião. As dores nos ouvidos dizia-lhe que estava a subir, o barulho era alto havia uma porta aberta, havia vento, barulho. A mochila era um pára quedas. Olhou pela porta aberta e viu que ainda agora tinha começado a subida. O chão ainda não estava longe e a pista estava pouco atrás. Percebeu que tinha de saltar, mas o chão ainda estava perto. Se saltasse cedo demais poderia não ter tempo para abrir o pára quedas. Resolveu esperar. Esperar por um pouco mais de altitude para saltar em maior segurança. Não podia, no entanto, esperar muito pois com a altitude viria a falta de oxigénio e um sono constante. Não interessa para a história quem pilotava o avião, isso é raciocinio de mentes racionais. A sua não era. O avião não podia subir muito, ele não podia saltar já, a gasolina podia acabar, tinha de saltar. Teria de esperar o momento certo. E se o pára quedas não abrisse?

foi assim

M apaixonou-se por A. Casaram-se. A foi para África. Quando voltou M era diferente e A também. Os tempos não permitiam o divórcio mas a separação consumou-se. J apaixonou-se por M. M nem por isso. Agua mole em pedra dura e M apaixonou-se também. Aprendeu a apaixonar-se por J que trocou tudo por M. Nem M nem J tinham o divórcio para poderem casar. M engravidou e dias antes do filho nascer o divórcio foi possível e casou com J. Contra tudo e quase todos resultou. Hoje J e M estão juntos.

J casou com G. Eram novos e já com um filho. A seguir veio outro. O casamento era entre famílias. Era um bom casamento. Nem sempre o essencial para um casamento bom. J apaixonou-se por M. J foi repudiado, foi recusado, foi atraiçoado. Familia, amigos, relações profissionais. A coisa não caía bem. Os tempos não permitiam o divórcio mas o coração é quem manda. J fez tudo por M e M viu. Gostou. Apaixonou-se também. Contra tudo e quase todos resultou. Hoje M e J estão juntos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

a onda veio e levou-o...

Ele preocupava-se. Sempre. Demais diziam-lhe. Não parecia, mas preocupava-se. Era com o presente, com o futuro, com o passado. Água debaixo do moinho? Não. Ele queria remar contra a corrente. Queria descer à ribeira e ir à procura da água que já tinha passado debaixo do moinho. Se conseguia? Não, mas também não se esquecia. Lutava contra o que tinha passado descurando talvez o que estava para vir. De tal forma que ao olhar para trás ia vivendo o presente.

Um dia na ribeira agitada veio uma onda, e ele, a olhar para trás, não viu a onda a vir. A onda veio e levou-o. Ele diz que não a viu, mas eu não acredito. Não é possível não ver a onda a vir na ribeira. Deixou-se levar na onda. "Vamos ver onde isto vai dar"... deixou de remar contra a corrente. Deixou de olhar para o passado não acreditando que lá houvesse algo. Ficou na onda a olhar para o futuro. O mundo à volta ia passando e ele ia vendo. Ia apreciando. Aceitava o que por ele passava e a onda ia crescendo.

Sem se aperceber, diz ele porque eu não acredito, a onda cresceu e ele não conseguia sair da onda. Olhou para trás e viu os caminhos que não tomou. Olhou para a costa e com medo, talvez, achou que não era ali que queria estar. Olhou à volta e não gostou do que viu. Era tarde. A onda era muito grande. Procurava algo a que se agarrar para não avançar mais. Queria parar, queria pensar. Não podia. A costa corria como só o tempo corre.

Olhou para a frente. Não era mau. Não era fácil. Até podia ser bom. Depois. As coisas iam piorar mas depois melhoravam. Talvez. Era o problema de olhar para a frente, não havia certezas. A costa ia mudando e pouco podia fazer. Podia escolher os caminhos. Alguns. Lá à frente conseguia ver um caminho. Era aquele para o qual ia rumar. Era inevitável, tinha de ser aquele caminho. Só podia. Era agitado como só o passado pode ser, mas com o olho no futuro tomou a decisão no presente. Sim porque ondas nunca mais. Nunca mais se deixaria levar nas ondas. As ondas só crescem e quanto mais crescem mais difícil é sair delas.

A decisão estava tomada. A onda levava-o. Em breve mudaria de rumo. Mudaria de rumo de formas que nem ele podia imaginar, mudaria como só o futuro muda.

sou anti-blog disse ela...

"Sou anti-blog pois isso para mim é expor vida e pensamentos, e duvidas, e certezas, e tudo mais! Penso que a vida é preciosa demais para se fazer isso" disse ela.

Não será "o expor" uma partilha? Um partilhar da vida? A vida é preciosa demais para não se partilhar com os outros digo eu. Gosto de incluir os outros naquilo que penso, naquilo que faço. Não é a vida feita também pelo que os outros partilham connosco? A felicidade, o amor, as tristezas e as dores. Não me convences... e não só por isso vou partilhar ainda mais. Assim começa mais um blog.

Escrevo porque sim. Porque me apetece. Porque gosto de escrever. Não vou fingir que o faço bem, nem que tenho talento. Mas gosto. Gosto de escrever pensamentos e momentos. Gosto da impulsividade dum momento e da viagem que se faz enquanto escrevemos. Por vezes um combóio expresso de A a B em menos tempo possível noutros momentos parando em todas as estações. Por vezes descarrila (sem vítimas) e não chega ao destino. Outras acaba num destino diferente daquele que pensámos ter quando embarcamos (embarca-se num combóio?).