Ele preocupava-se. Sempre. Demais diziam-lhe. Não parecia, mas preocupava-se. Era com o presente, com o futuro, com o passado. Água debaixo do moinho? Não. Ele queria remar contra a corrente. Queria descer à ribeira e ir à procura da água que já tinha passado debaixo do moinho. Se conseguia? Não, mas também não se esquecia. Lutava contra o que tinha passado descurando talvez o que estava para vir. De tal forma que ao olhar para trás ia vivendo o presente.
Um dia na ribeira agitada veio uma onda, e ele, a olhar para trás, não viu a onda a vir. A onda veio e levou-o. Ele diz que não a viu, mas eu não acredito. Não é possível não ver a onda a vir na ribeira. Deixou-se levar na onda. "Vamos ver onde isto vai dar"... deixou de remar contra a corrente. Deixou de olhar para o passado não acreditando que lá houvesse algo. Ficou na onda a olhar para o futuro. O mundo à volta ia passando e ele ia vendo. Ia apreciando. Aceitava o que por ele passava e a onda ia crescendo.
Sem se aperceber, diz ele porque eu não acredito, a onda cresceu e ele não conseguia sair da onda. Olhou para trás e viu os caminhos que não tomou. Olhou para a costa e com medo, talvez, achou que não era ali que queria estar. Olhou à volta e não gostou do que viu. Era tarde. A onda era muito grande. Procurava algo a que se agarrar para não avançar mais. Queria parar, queria pensar. Não podia. A costa corria como só o tempo corre.
Olhou para a frente. Não era mau. Não era fácil. Até podia ser bom. Depois. As coisas iam piorar mas depois melhoravam. Talvez. Era o problema de olhar para a frente, não havia certezas. A costa ia mudando e pouco podia fazer. Podia escolher os caminhos. Alguns. Lá à frente conseguia ver um caminho. Era aquele para o qual ia rumar. Era inevitável, tinha de ser aquele caminho. Só podia. Era agitado como só o passado pode ser, mas com o olho no futuro tomou a decisão no presente. Sim porque ondas nunca mais. Nunca mais se deixaria levar nas ondas. As ondas só crescem e quanto mais crescem mais difícil é sair delas.
A decisão estava tomada. A onda levava-o. Em breve mudaria de rumo. Mudaria de rumo de formas que nem ele podia imaginar, mudaria como só o futuro muda.
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3 comentários:
OlÁ :)
Gostei especialmente da forma como o texto é narrado: "ele diz... mas eu ñ acredito"!.
Beijos
Isso mesmo, não nos podemos deixar levar pela onda. Bem, isto se não formos surfistas...
Mas também não podemos ir em cantigas. Nem na conversa do vendedor da banha da cobra. Temos que acreditar em nós próprios. Confiar em nós próprios. E sempre aprender com os outros.
Apaguei um comentário a nível pessoal que não aceito de um leitor anónimo. Se o leitor quer fazer um comentario pessoal, o minimo que peço é que se identifique.
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