terça-feira, 13 de setembro de 2005

falam falam falam

Antes de nos casarmos todos perguntam "e tu quando é que te casas?". Quando vamos a casamento dizem baboseiras como "a seguir és tu". As mulheres até atiram flores em decomposição para ver a quem calha a "sorte" de ser a seguinte. Ainda hei-de pesquisar a tradição ou lenda por detrás deste curioso ritual, mas adiante...

Quando tomamos a decisão de casar há sempre um que diz "não faças isso". Onde estava esse quando nos perguntavam "e tu, quando é que te casas?"? Há o dia em que se toma o passo e tomamos uma decisão que esperamos seja para a vida. Uma pessoa pensa que está preparada, e até pode estar, e vai. Dá um passo à frente saca do anel que custou um braço e uma perna e pergunta "Queres casar comigo?". Regra geral a resposta é positiva e nesse momento a sua vida muda em mais aspectos do que pode imaginar. Muda até ao dia do casamento. Depois do casamento até pode voltar ao que era antes, mas até lá... noite e dia.

Não estou a falar dos clichés todos de que a vida sexual acaba ou que acabou a liberdade ou que elas mudam, não. Acho isso uma seca de conversa, a chamada conversa da treta. Vou falar da coisa que ninguém me disse. Ninguém me avisou. Vou falar do que não me tinha lembrado e que gostava que me tivessem informado.

A partir do dia do pedido, a partir do dia em que é verbalizado o desejo de matrimónio, não passará um dia que seja sem que se tenha de falar nisso. Sem que se tenha de tratar de qualquer coisa para isso, sem que se tenha de falar do que fizeste do que falta fazer ou no mínimo ouvir tudo o que a cara metade já fez e o que te calha a ti para fazeres. Não estou a falar dos 300 EUR que se gasta na conservatória, da fila de espera, da senhora antipática atrás do balcão. Não estou a falar do Diácono com mania que é mais direito que uma estrada num deserto americano. Não estou a falar da escolha da igreja, da quinta, do local, do menu, dos convites, do missal, das alianças, da música... não. Estou a falar do falar.

Estou a falar dos amigos que perguntam, estou a falar da família que pergunta, estou a falar de todos os dias repetir a mesma coisa para cima de 20 vezes para depois chegar a casa e falar do que se fez, está feito e o que falta. Ter que passar todas as horas em que se está acordado a pensar no casamento porque nos obrigam a falar dele. Isto para o leigo, para aquele que está a pensar em tomar o passo, pode parecer normal, suportável ou até uma reacção exagerada da minha parte, mas acredite quem lê estas frases: não é!!!!!!!

Eu já não posso ouvir falar no meu casamento! Estou ansioso que chegue o dia para poder deixar de falar dele.

"Então, está quase ah?"
"Está tudo a correr bem?"
"Então como vão os preparativos?"
"Então esse stress?"
"Não vais fugir, pois não?"
"Eu depois de te casares conto-te umas coisas..."

Eu acredito que o interesse seja genuíno, em alguns casos, que as intenções sejam as melhores, mas pensem lá um bocado antes de fazerem a pergunta TODOS OS DIAS! Do amigo que não vejo há uma semana ou mais, ok, é normal, é conversa. Agora do colega de trabalho com quem estou todos os dias, ou do amigo que vejo dia sim dia não... não. Por favor. Chega.

Não interpretem estas palavras como dúvidas ou falta de amor ou falta até de vontade, não, longe disso. Estas palavras são o estar cansado de falar do casamento. Chega de falar. Vamos lá a passar à acção. Estou farto de tratar e tenho a sorte de ter uma noiva que me tem tratado de tudo. Que venha o dia e o dia seguinte porque dos dias antes já estou eu farto!

Aviso portanto a quem se pense em casar: arranjem lá um esquema qualquer e falem o menos possível sobre o dia. Falem apenas o essencial e quando os amigos trouxerem a conversa ao de cima, mudem o assunto. Quando se falar nisso no jantar habitual de sexta com os amigos, falem antes do jogo de futebol que não viram ou da Formula 1 e do nosso Tiago Monteiro. Falem da política, da desgraça ou do Katrina, mas por favor.. não me falem mais no casamento!

A minha consciência fica mais tranquila, passei um aviso, que não me passaram a mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Percebo-te bem ;)
Beijos