Há muito tempo, quando o tempo mál existia e os deuses rumavam a terra, o tédio era muito. Não havia nada que fazer e também não se esforçavam para fazer o pouco que havia. Faltava qualquer coisa. Na reunião geral dos deuses não se chegou a conclusão nenhuma como é habitual nas reuniões gerais. Houve, no entanto, um deus que nos dias seguintes à reunião achou que faltava uma medida de tempo. Faltava o passado o presente e o futuro. Faltava uma medida e referência. Falava-se do ontem do antes de ontem, falava-se do mês passado mas pouco mais. Só se falava no que tinha acontecido há 2 dias porque dizer "antes-antes d'ontem" soava mal. Só se pensava no amanha e no depois de amanha, ou então para o mês ou ano que vem. Faltava o meio termo. Faltava poder falar de os 8 dias que passaram ou dos 8 que vinham. Esse deus, chamemos-lhe o Semanário por falta de nome melhor, criou então os dias da semana. Eram 8. A primeira-feira, a segunda-feira, terça-feira e por aí a diante. A sétima feira soava mal e então para variar chamou-lhe sábado e o dia a seguir foi o domingo. Depois de domingo voltaria então a primeira-feira num ciclo repetitivo mas confortável. Semanário nomeou aquele dia de Domingo e por isso alguns confundem o Domingo como o primeiro dia da semana, mas era apenas Domingo para que a primeira-feira tivesse as 24h necessárias para ser um dia e o porque aquele dia já ia a mais de meio.
Semanário informou os deuses, da maneira que um deus informa os outros deuses, da sua nova criação: os dias da semana. Os deuses aplaudiram a ideia e Semanário sentiu orgulho na sua criação. Era agora possível ter um nome para cada dia. Era possível planear coisas para além de depois de amanha. Era possível recordar coisas que se tinham passado antes de ontem. Como as dietas de hoje em dia, Semanário disse "A semana começa amanha", e ao contrário das dietas de hoje em dia, assim foi.
O Domingo passou depressa, como que um pressagio do que aconteceria a todos os domingos dali para a frente, e veio a primeira-feira. Na primeira primeira feira do mundo, e quem sabe do universo, deu-se um fenómeno que só os deuses sabem explicar mas que ainda não o fizeram. Nessa primeira primeira feira a depressão foi geral. Era que nem uma nuvem a pairar sobre a cabeça de cada Deus. Não fossem os deuses imortais, metade teriam cometido suicídio e os que sobrevivessem matavam-se uns aos outros devido a terem inexplicavelmente acordado de mau humor. A primeira-feira assinalava o inicio de mais uma semana, a passagem da anterior e o final dos dois últimos dias da semana chamado o fim de semana. O que faria dos primeiros dois dias o principio da semana. A primeira primeira-feira foi um dia negro na história dos Deuses. Ainda nem metade da primeira primeira-feira tinha passado e já se falava em guerra, já se falava no fim da terra, já se falava em revolução. Foi então que todo este chinfrim foi interrompido por um grande cometa que apareceu no céu como só os cometas sabem aparecer. Voava através do de uma forma que só um cometa o faz. Só os deuses sabem porque apareceu o cometa e mais uma vez, ainda não explicaram. Especula-se que tenha sido o deus dos deuses a enviar o cometa para que acabasse com a Terra para que os deuses tivessem qualquer coisa que fazer para acabar com o tédio, mas isto parece lógico demais. O mais provável é que o deus dos deuses se encontrasse também ele de mau humor na primeira primeira-feira e enviasse o cometa só para chatear. Seja qual for a razão o certo é que o cometa, para além de rasgar o céu, rasgou também o tédio.
O deus mais deprimido de todos era sem dúvida Semanário. Então aquilo que era para ser um inicio de uma nova era, uma era de dias com nomes começava por ser uma era de depressão e zangas. O cometa era apenas a cereja no topo do gelado com chantily. A tal cereja que nem os deuses sabem explicar a razão da sua existência no topo do chantily. Semanário estava desesperado. Não era assim que ele tinha imaginado, não era assim que ele tinha planeado... afinal de contas nem os planos dos deuses correm como planeado e queremos nós que os nossos corram. Se isto era a primeira primeira-feira Semanário nem queria imaginar como seria de primeira-feira a oito, a segunda primeira-feira. Foi aqui também que teve origem a frase "de sábado a oito" ora oito dias depois de sábado seria sábado novamente.
Foi convocada uma reunião geral de emergência onde novamente nada se decidiu, mas muito se discutiu. Não se chegou a conclusão nenhuma e a primeira primeira-feira ainda ainda pouco passava de meio. Mais uma vez semanário sentou-se a pensar, não que não conseguisse pensar de pé mas já lhe doíam os pés. Isto de um deus andar descalço tem muito que se lhe diga. Semanário tentava manter a calma apesar do cometa se aproximar a uma velocidade alarmante se mais que não seja pelo barulho que fazia. Foi quando o impacto estava iminente que Semanário teve uma ideia brilhante. Brilhante devido à aproximação do final da primeira pois até se conseguiu ver a luminosidade da ideia. Se fosse meio dia teria sido mais difícil chamar-lhe uma ideia brilhante pois a luminosidade do sol ofuscaria o brilhantismo.
Semanário levantou-se, ergueu os braços e acabou com o dia. A relação de levantar os braços com o acabar do dia ainda não foi bem identificada e pensa-se que nada tem a ver. A primeira primeira-feira acabou repentinamente e durante umas horas houve o vazio. Vazio esse que durou até ao final do dia que seria a primeira e única primeira feira. Com o dia desapareceram os problemas que até então se encontravam apenas relacionados com as primeiras feiras. Mais importantemente desapareceu o cometa que acabaria com a primeira primeira-feira e faria que a primeira segunda feira nem sequer acontecesse. Ora Semanário não queria ver a sua criação repentinamente acabada e preferiu perder um dia do que perder a semana.
A primeira semana de existência da primeira semana começou numa primeira-feira. A primeira-feira nunca acabou naturalmente, tendo a segunda-feira repentinamente tomado o seu lugar no inicio da semana que passou apenas a ter um dia e não dois como o fim de semana. A seguir a domingo viria a segunda feira seguida pelo resto dos dias da semana. A segunda feira, apesar de um mau dia nunca seria tão mau com a primeira feira. Nem os deuses algum dia mais falaram da primeira primeira-feira. Segunda-feira seria um dia de recuperação, de ressaca, de mau humor mas nunca ao ponto do que tinha sido a primeira e única primeira-feira. Seria assim até ao final do tempo. Tempo esse que ainda não acabou. Uma curiosidade é que ainda hoje se diz de "segunda a oito" como indicação de para a semana no mesmo dia, apesar de "segunda a oito" seja terça-feira e não segunda-feira.
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1 comentário:
Ora ainda bem que a segunda-feira nunca é tão má como foi a primeira primeira-feira, sim porque as pessoas já ficam tão mal humoradas por ser segunda-feira, não quero imaginar como seria se fosse primeira-feira :)
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